sexta-feira, 13 de junho de 2008

Origem Da Palavra!


* Infidelidade: Do latim infidelitate

* Trair: do latim traditione (entrega)


O que é traição


A palavra traição revela uma ambigüidade não só etimológica quanto semântica, pois vem do latim tradere, que queria dizer, numa linguagem militar, entregar nas mãos de alguém, fazer a passagem ou a entrega das armas ou da cidade. Desta forma, o substantivo latino traditio que correspondia a passagem e entrega, ocultou sua valência original - que tanto significa traição quanto ensinamento - e passou a significar somente o oposto, ou seja, segundo o dicionário Aurélio, o ato ou efeito de trair perfídia infidelidade, emboscada.A traição, em sua moderna acepção, se revela no estragar as coisas, desejar, enganar, seduzir, tentar, fraudar, culpar, confundir, ocultar, fugir, roubar, mentir, dentre tantas demonstrações de nossa ambivalência e ambigüidade internas que se imiscuem em nossos relacionamentos.
Parece que a psique ainda virginalmente inconsciente e irrefletida, necessita ser iniciada pela fratura exposta da traição, pois esta expressa uma dimensão dramática da realidade ao decretar a renúncia das exigências infantis de fidelidade absoluta, e conduz ao enfrentamento da experiência primária. Seremos, quando traímos ou somos traídos, os instrumentos de uma fidelidade mais profunda a algo mais vasto, que transcende interiormente nossos objetivos imediatos, nossos planos? (Carotenuto, p.27).


O que ocorre quando descobre-se uma traição?


1 - A vingançaApesar de promover a descarga da tensão acumulada pelo recebimento do agravo, a vingança não é produtiva do ponto de vista psicológico porque se for adiada e refinada se torna obsessão, causando a redução da consciência.2 - A negaçãoQuando Eva ainda não foi acionada dentro de nós, quando a ambivalência interna está reprimida, nós nos mantemos no estado adâmico de inconsciente inocência infantil; reprimimos a anima - aquela capacidade de avaliar se o relacionamento está bom ou não, se está precisando de alguma coisa. Agimos como se já fosse suficiente o que se vê, o que se crê e o que se tem. E quando nos acontece a traição, negamos no outro as qualidades que há pouco elogiávamos, e somos tentados a ver a sombra do outro, para a qual fechávamos os olhos. Ou, inconscientemente , olhávamos para o outro lado - na repressão. Quando há uma falha aqui, a pessoa passa a negar todas as possibilidades e esperança.3 - O cinismoAs nossas decepções com a pessoa amada, com o partido político, com o amigo, o superior ou com o analista, em algum momento se torna uma atitude cínica e amarga de desqualificação e desvalorização. As mulheres ou os homens são falsos, as causas políticas são para os ingênuos, etc. O perigo existente no discurso cínico é o de zombar do próprio destino, desmerecer os próprios ideais e as ambições pessoais mais elevadas, retirando a seiva da vida e se refugiando em um círculo vicioso de amargura e falta de perspectiva, abortando assim a vida.4 - A traição de si mesmoA escolha por trair a si mesmo é reagir a uma traição a partir de valores que não são os nossos. Não há nada pior que isso. No momento mais difícil, o que há de pior aparece, e agimos da mesma forma cega e sórdida que atribuimos ao outro, o traidor. Nos desqualificamos. Nossos valores mais profundos, nossas pérolas, são vistas por nós como inutilidades, como lixo. Nos voltamos contra nossas próprias experiências mais valiosas, atribuindo-lhes valores negativos de sombra2, e passamos a agir de forma contrária às nossas intenções e ao nosso sistema de valores. Deitamos nossas pérolas aos porcos que não são os outros, mas as explicações grosseiras, as reduções das nossas delicadezas de toda uma vida ao pó da insignificância e da nulidade. Dizemos a nós mesmos que não seremos mais assim... Que não faremos tal coisa, etc. Rejeitamos o que é nosso, rejeitamos a nós mesmos praguejando contra nossa humanidade que foi assim, tão autênticamente vivida. No entanto, a ferida provocada revelou aquilo que se é. Distanciar-se de si mesmo é uma forma de evitar sofrer, entrando no que Jung chamou de "sofrimento inautêntico" da neurose, no qual deixa-se de viver a experiência pessoal de sofrimento por falta de coragem de ser. A exigência essencial é que se assuma o próprio sofrimento; de que se seja o que se é, não importando o quanto isso possa doer.5 - O desvio paranóideEssa opção estéril é, na verdade, uma medida contra novas traições, através da elaboração do relacionamento perfeito. Todo o tipo de prova e asseguramento é exigido do outro, pois não pode haver riscos à segurança.Toda essa convenção rescende mais à poder, que à amor, e nessas condições o relacionamento se sustenta mais pela palavra, do que pelo sentimento. Mas as promessas são relativas. Uma vez perdido o paraíso da confiança absoluta, ele não é mais recuperado, e tendo já passado pela traição "os novos relacionamentos terão que começar por um ponto diferente" (HILLMAN, op. cit. p. 90).O que se pode dizer do ciúme extremo e da possessividade, senão que expressam um contínuo sofrer a perda; um reviver incessante do abandono absoluto original em nossas relações com os outros. Desejamos nos libertar do vínculo primário, mas não o conseguimos, e daí nos envolvemos na sua repetição dolorosa.O que é preciso, então? O que nos traz essa vivência da traição? A necessidade de queimar o obscuro desejo de confiar no outro, de compreender que estamos errando de interlocutor, pois não é o outro que fará com que nos tornemos adultos. Não temos mais um pai e uma mãe para nos dar uma retaguarda. Essa ilusão, que projeta nos outros um “genitor”, escamoteia a possibilidade de nos vermos como quem realmente pode “provar a força de aceitar e viver completamente”. (CAROTENUTO, p.120).A traição é um evento estruturante. As fraturas e cisões em nossas relações sentimentais nos desestabilizam, formando e transformando nossa consciência nessa dor, ”via da inteligência e da compreensão do mundo” (NATOLI in CAROTENUTO, p.178). Mudamos os termos de nossa existência, resgatando o verdadeiro significado, o sentido disso que tanto feriu. Refletimos e elaboramos e começamos a crescer.


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